quarta-feira, 21 de maio de 2008

É um avião? Não, é uma barriga!!!
Um falso acidente aéreo em São Paulo
Por Sílvia Germano

Um incêndio, que ocorreu na tarde de terça-feira (20/05) em um prédio comercial na Zona Sul de São Paulo, causou confusão e deixou a imprensa em situação delicada e, diga-se de passagem, constrangedora. O fato é que, a emissora de TV a cabo Globo News noticiou que um avião da Pantanal Linhas Aéreas havia se chocado em um prédio na região sul de São Paulo. Na busca pelo furo, vários sites de notícias veicularam a informação, baseada na Globo News, sem ao menos checar se era exata, ou não. Na verdade, o incêndio atingiu as instalações de uma loja de colchões, não existia avião algum. Resultado: a famosa “barriga”, bela de uma informação falsa.

Para se justificar, a Central Globo de Comunicação divulgou uma nota (veja a íntegra no site
http://www.folhaonline.com.br/) afirmando que o canal pago “apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens”. E ainda, não disseram a origem da informação errada.

Manchetes do tipo: “Avião atinge prédio em São Paulo”; “Avião da Pantanal cai na Zona Sul de SP” ; “Ao vivo: avião cai em prédio na região sul de São Paulo” e “Avião cai em bairro residencial em São Paulo”, foram noticiadas por grandes sites jornalísticos. Nenhum deles verificou a veracidade da informação antes de publicá-la. E para piorar, quando perceberam o erro trataram de colocar a culpa na Infraero, na Pantanal, na Globo News (não estou retirando a culpabilidade da Globo, afinal foi a percussora da barriga). “Passaram-nos informações erradas”. Não e não! Todo veículo deve ter cautela ao divulgar um fato e apura-lo da melhor maneira possível. Isso é o mínimo que se deve exigir de um jornalista e de todos os meios de comunicação.

A pressão pelo imediatismo não pode, jamais, ser a razão para veicular uma informação sem que os fatos sejam devidamente apurados. Que o ocorrido sirva de lição.

Leia mais:
http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid175635,0.htm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u403858.shtml

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Caso Ronaldo
O show não pode parar

Por Sílvia Germano


O assunto já está esfriando na mídia - méritos para a “operação - abafa” de uma das maiores redes de TV do nosso país – mas, eu não poderia deixar de fazer algumas colocações sobre essa nova novela que alavancou pontos de audiência para a imprensa.

Sai “Caso Isabella”, entra “Caso Ronaldo”. Nosso país é mestre em criar folhetins com a vida, e infortúnio, das pessoas. Casos, novelas, o show da vida – não é o Fantástico, minha gente – é mais uma espetacularização de um episódio do cotidiano, particular, de uma pessoa comum. A diferença é a seguinte: a “tal” pessoa é um mito, um herói midiático, o próprio nome já diz: Ronaldo Fenômeno.

Como pode um acontecimento, no mínimo banal, causar tanta repercussão? O fato é que, Ronaldo sempre foi visto como um herói, uma celebridade “do bem”, o embaixador da Unicef, tudo isso ajudou a construir uma boa imagem para o jogador. E o que acontece quando “personagens” como ele não condiz com a imagem projetada? O show, o escândalo. O que deve ser lembrado, sempre, é que os “heróis” são constituídos de carne e osso, como qualquer mortal, cheio de deslizes e pecados.

Apesar da fama, prestígio e dinheiro, Ronaldo continua sendo o garoto do subúrbio carioca que se destacou graças a um talento que tinha, leia-se, não tem mais. Ele se destacou e entrou de cabeça, literalmente, no mundo das celebridades, como bem diz o jornalista Muniz Sodré, “a sociabilização pela sedução ilimitada pode ter efeitos devastadores sobre almas simples elevadas ao panteão da fama”.

Se Ronaldo agiu certo ou não? Não me cabe julgar. A questão abordada é o espetáculo criado para um caso grotesco. E se ele estivesse no motel com uma ou mais mulheres? O efeito seria outro, com toda a certeza as manchetes dos jornais seriam “O Fenômeno continua na ativa, batendo um bolão fora dos campos”, não é mesmo?! Mas em um país onde ser homossexual e, relacionar-se com esses, não é ser normal as manchetes apontam para uma vergonha nacional, um fenômeno “misturado” às anormalidades.

Enquanto não surgem novas novelas, novos capítulos, o público continua saboreando os acontecimentos desastrosos, ou não, da vida alheia. Até que venham novos fenômenos e novos espetáculos. Afinal, o show não pode parar.